O Espelho
Mais um dia… Distraidamente, me surpreendo ao olhar no espelho. Quem é esta pessoa que agora me observa? Sou eu mesmo? Mas, onde está aquele sorriso alegre, aberto, contagiante? Parece estar sem aquela energia viva que para todos era motivo de me querer como especial companhia, pois eu, diziam, “ alegrava” o ambiente. Que aconteceu? O que consigo observar é um olhar vazio, cansado, parecendo desiludido… Por quê? Veio à lembrança da criança. A minha criança, a que eu fui e esqueci… A que adorava brincar, correr livremente, caminhar sentindo a areia da praia, a água do mar, o vento no rosto, sentir as diferentes texturas da natureza, imitar os pássaros, apostar corrida com os cachorros, as outras crianças, as borboletas… O medo não existia, tudo era motivo de risadas, de ser feliz! Não posso culpar o tempo, a família, o cotidiano. Só posso me ver realmente como se ainda estivesse me ”vendo” no espelho. Críticas, mau humor, instabilidades, desconfianças, ansiedade. E o que é pior: eu contribuí para isto. Bendito espelho, pois, o que mais desejo é voltar a ser eu mesmo. Paro e penso. Sentimentos contraditórios me invadem: novamente as lembranças: ria com os considerados “subalternos” mas, eram os que mais brincavam, eram os mais acolhedores e sinceros. Até os “proibidos”gostavam de mim e sempre me esperavam para garantir as sobras das refeições… Meu peito era repleto de boas intenções, pleno de bem estar. O que aconteceu? Se é assim a verdadeira felicidade, o que mudou tanto? Que exemplos estou passando? Como consegui ser hoje esta pessoa que só olha para um pequeno espaço, e parece ignorar a vida, o amor universal, o outro? Junto com meu esforço, tento uma pequena prece. Sei que só depende de mim. De não ficar preso em mim mesmo. Preciso ser livre novamente! Procuro o espelho e noto que há uma claridade que se irradia. Sinto que ainda é tempo. Vai ser difícil, mas nada é impossível quando realmente se deseja. Terei a fé e qualquer esmorecimento, terei aquele meu espelho.
(Lawrence Jourdan)
