Reunião IASFA 27.11.2013

Publicado em 27 de novembro de 2013

Reunião IASFA 27.11.2013

Num amanhecer ensolarado de outono de uma Cidade Grande,  enquanto o sol banhava a vida de dourado, bailava no firmamento azul, um pequeno beija-flor.

Beijado pelos raios solares, nos  seus vaivéns de sonho, mais parecia uma jóia rara levitando no ar, tal a sua graça. Parecia uma miragem encantada.

Era uma visão do Paraíso que planava no céu descontraído, despreocupado e alegre, dando graças à vida pela simples alegria de existir e cumprir com sua tarefa.

De repente, interrompido de seus malabarismos, ouviu um –  Psiu! 

Psiu, psiu, ei você?! Como foi que você veio parar aqui, perguntava a chaminé de uma velha  fábrica de sabão que cuspia fumaça negra escurecendo  toda a redondeza… Você não vê que aqui não é o seu lugar? Faço parte dessa colossal máquina econômica, que não pára, não dorme, tudo é pressa… Longe daqui você terá a tranqüilidade do campo, o verde, o ar puro… Você com essas asas frágeis, sua cauda multi colorida, como um leque,  não está meio deslocado? 

“Nasci aqui – respondeu o colibri. Há flores em alguns jardins. Consigo sobreviver. Sou feliz”.
– “Mas como, indagou a voz fumacenta. A Natureza aqui está quase toda apagada, o que você faz aqui nesta vida agitada. Você faz parte dos bosques perfumados

– “Vôo. Vivo” – respondeu o pássaro com humildade. 
– “E você é feliz?”, descrente, ainda perguntou a chaminé?  – “Como não ser feliz?! O homem que fez este jardim onde me encontro, é bom e carinhoso. Ele não se esqueceu dos pássaros pequeninos e, sabendo que estamos distantes das campinas, me alimenta todos os dias. Vê aquele bebedouro com flores artificiais, ali encontro todos os dias o alimento que me sustenta as forças: água e açúcar. O que preciso mais?”
-“Não sei respondeu, quem sabe um lugar onde você pudesse voar com mais liberdade…? Nessa cidade de cimento e poluição ninguém presta atenção em você. Só se pensa em dinheiro, fortuna, ganância, pressa, olha bem para mim. Já estou velha e mesmo assim não me dão um minuto de descanso, dia e noite trabalho, trabalho, enfim… 
-“Deus me pôs aqui. As vezes não compreendo o ruído da cidade. Nem sempre o homem me vê, mas acredita em mim, não se esquece que de uma hora para outra eu posso chegar e me prepara a refeição. O homem, ainda, tem sonhos e fantasias. Na verdade, ele se torna adulto, mas no fundo de seu peito permanece viva a infância. Já estou acostumado com a cidade. O Senhor que me fez, me deu  a vida, e esta Cidade como casa…
Neste instante, entrou na conversa um poste de iluminação pública todo algemado a fios.

– “Ei, ei, ei… Ô cara, isso que “tu” tá falando, é conversa fiada. Tu não vê que aqui ninguém respeita ninguém. Ninguém “qué perdê tempo nem dinhêro. Sonhu, fantasia… Acho “melhó tu i imbora daqui…” Apruveita que tu ainda tá livre…, num vê a minha situação, cheiu de fio, uma purção de papel pregado em mim. A lâmpada que eu guento nus obro tá queimada. Só sirvu prá isso. Nada mais. Tu tem u céu prá voar. Vai  imbora inquanto é tempo… Xô, Xô, ô meu…..”

– “ Estou à disposição do meu Senhor. Nasci aqui. Que posso fazer contra esta grande Cidade, vencer a grande distância que me separa das matas?” Se fosse para ter liberdade total, eu teria nascido no alto das montanhas, junto à  relva, à beleza das rosas. Não me importo, porque muitas papoulas vermelhas enfeitam o  meu caminho para este jardim. Essa visão já me basta.” – “Colher o mel farto nos jardins, campos, é muito fácil. Mas semear essa doçura nos corações solitários que sofrem, pr esos à compromissos, responsabilidades, vida agitada, é minha tarefa.” As flores do campo, deixou para outros. Eu sei que sou a flor para os olhos dos enterrados vivos nas grandes cidades. Nasci repleto de cores, e aqui estou. Deus me deu a missão de fazer sorrir a quem me veja. Trago comigo o perfume raro das flores, para quem respira com dificuldade nesta vida de cimento armado. Preciso lembrar ao homem que os campos lá fora existem repletos de flores. Senão, por que existiriam os beija-flores?”
– “Não desisto de lembrar aos sofredores que a Grande Natureza sempre lhes convida a viver uma vida mais simples, pura, no divino seio da fraternidade e do respeito.”
– “ Como vocês podem ver, sou feliz, estou feliz e se aqui nasci, dentro desta Cidade Grande que me abriga, nosso Criador é mais Sábio do que compreendemos, e para nossas vidas sempre existe um motivo maior. Devemos ser obedientes e fazer a nossa parte com  respeito e dedicação.”
Mas como o coração da chaminé era feito de pedra, que estava acostumada a vida  apressada, urgências, fumaça, sirenes, correria, não compreendeu a alegria do beija-flor. O que poderia um poste entender da Vida, habituado a uma existência inerte? Como poderiam admirar um pequeno beija-flor suspenso no ar?  O que poderiam entender de amor? De doação, flores e beija-flores? O beija-flor, contudo, continuou na sua tarefa, a celebrar a vida com alegria e
determinação, até quando a mão do tempo o levou.  

 

Até Sempre.  F.C.    17.03.99


                                                                  


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