Vinha pelo caminho que, naquela manhã, mostrava-se iluminado pelos raios do Sol que, ainda, secavam o orvalho que, pela madrugada, umedeceu os arbustos e flores que
enfeitavam os campos ao redor.
Trazia em meu peito a alegria que mal se continha em mim, transbordando através de meu olhar. Havia participado, durante a noite, de um trabalho de doação e caridade em prol dos desvalidos que habitavam aquela região. Fora tão prodigioso que o Pai permitiu que muitos se recuperassem, ainda que momentaneamente, de seus vícios, de suas amarguras, de seus sofrimentos. A Seara do Senhor jamais fecha suas portas às necessidades de seus filhos.
De repente, numa curva da estrada, deparei-me com um senhor que, olhar atarantado, fisionomia carrancuda, expressão tristonha, sem fazer qualquer mesura, perguntou:
Acaso este é o caminho que leva ao Reino de Deus?
Surpreso, retorqui: Por que desejas encontrar o Reino de Deus?
Respondeu-me ele: Li nas Sagradas Escrituras que lá encontrarei a paz, o descanso… Afinal, eu o mereço, pois, já andei por este mundo afora, já freqüentei castelos, já cruzei os mares, já andei pelos campos, já galguei as montanhas, já estive nas cidades e só o que vi foram pessoas trapaceando, abusando uns dos outros, praticando os mais diversos tipos de maldade. Porém, o tão prometido Reino de Deus, jamais encontrei.
Olhando em seus olhos, perguntei: Por que procuras tão longe o que está tão perto?
Sem entender o que perguntava, pediu-me esclarecimentos.
Agradecendo ao Senhor, disse: Amigo, se buscas a paz, é preciso que olhes antes o teu interior para saber se lá podes encontrar esta bênção. Para obter uma resposta satisfatória é preciso saber se a mereces. Para merecê-la é preciso que faças a tua parte. Para fazer a tua parte é preciso que trabalhes, é preciso que, por onde quer que vás, estejas pronto para ajudar, ser útil, permitir que aqueles com quem convives possam também participar do Reino de Deus. E, para isso, só uma fórmula te permitirá alcançar esse objetivo: fazer a caridade sempre, a quem quer que seja, onde quer que estejas, sem olhar a quem e nem considerar o que cada qual faça. Não olhes o malfeito do teu irmão, mas ajuda-o, o quanto possa, para que não se enrede nas teias do mal. Liberta-te das amarras do preconceito e abre teu coração para a prática do bem, espargindo esperança, paz, caridade, fraternidade e amor. Insiste em ajudar, mesmo que sintas que o teu irmão não valorize isso. Ore e esteja com o pensamento firme e livre de más influências. O teu exemplo é o esteio por onde a obra do Senhor alcançará o sofredor, resgatando-o do mal. Só assim, amigo, estarás pronto para encontrar o Reino de Deus que, então, se fará presente pelos caminhos onde andares.
Surpreso, o homem pôs-se a refletir naquelas palavras e, ajoelhando, elevou ao Pai uma singela prece de agradecimento.
Em seguida, pedindo misericórdia ao Pai, segui meu caminho em paz.
Pai João/Carlos Alberto 18/04/2012.
