Caixinha de surpresas
Vó, você lembrou do meu aniversário? Claro, querido! Como vou esquecer? Tenho mais de 90 anos, mas ainda, muito amor no coração. Ele não se esgota com o tempo. Quanto mais distribuo, mais se fortalece. Meu filho, isto é para você. Mas, você só poderá falar sobre isto, daqui a três meses, no meu aniversário de 93 anos, promete? Se eu ainda estiver viva. Claro vó! E não fale em morte, por favor! Caio, ela é uma transformação, não um término. Abriu o presente. Era uma caixinha. Veria depois. Abrira mão do carro e usava o ônibus para ir para o trabalho. Admirava aquela mulher que ensinava até através do silêncio, com sua humildade e grande sabedoria. Todo dia, cedo ainda abria a caixinha e lia as mensagens. Sem querer, começara a interligar o que estava escrito com os fatos do dia a dia. “Nunca abra mão da caridade. Faça em nome de Jesus.” Ao distribuir alimento às pessoas embaixo dos viadutos, passou a olhá-los nos olhos. Via agora não só olhares apagados e desiludidos, mas, agradecidos. Isto o emocionou. Um dia, Carlinhos, seu aluno, chorou compulsivamente quando o colega o chamou adotado! Você não é filho deles! Caio, então, contou-lhe a sua história. Era também filho do coração e muito amado. Abraço forte de segurança, entendimento, consolo. “Você é único não se martirize com ciúme, inveja, complexo de inferioridade. Deus não distingue suas criaturas!” Não haja assim, falou para o amigo: Sua noiva vai se surpreender: Dê–lhe liberdade. Quanto mais se sentir livre, mais precisará de você. Você a agride com seus ciúmes e insegurança. Interpreta errado o que ela diz. Experimente. A fortaleza é interna. Não está no outro. “A dor ensina e precisa acontecer para que aprendamos a nos sentir melhores.” Visita aos doentes no hospital. Parecia que eles já esperavam a palavra amiga. Como se sentia bem ao poder ajudar. Não lhe custava nada. Pelo contrário. Aprenda a orar contar com Jesus em toda e qualquer dificuldade. Na faculdade, nos grupos de estudo, nas reuniões, começara a notar a vaidade, a necessidade de aplauso, do desejo de só querer aparecer e não de beneficiar o grupo. Falta de gentileza, de modéstia. Como somos falhos. “Precisamos nos fortalecer e não julgar. Procure aprender com o que não concorda com você. Todos somos diferentes. Cada um tem suas razões. Pratique o perdão.” “Não tenha nem pratique qualquer tipo de preconceito. Somos todos irmãos e claro, muito diferentes.” Gorda, negra, triste, Inês sentia-se um peixe fora d’água. Como fora difícil ingressar na faculdade. Caio percebia seu olhar fugidio e inseguro. Aproximou-se, colocou-a no seu trabalho de pesquisa e lutou para que se destacasse na apresentação. Aos poucos foi se integrando e percebeu que o preconceito era dela mesma. Com a ajuda do amigo percebeu que qualquer tipo de mudança dependerá sempre de si próprio. “ Não se destrua com raiva, mágoas, angústias, vícios. Ame a todos incluindo a natureza.” Rapidamente o tempo passou e no aniversário de 93 anos da vó, Caio devolveu-lhe a caixinha vazia com uma única mensagem: “Valeu vó! Te amo demais! Meu melhor presente é dizer-lhe o quanto te amo e admiro. Parabéns! Hoje sou uma pessoa mais tolerante e paciente. Tento me melhorar cada vez mais para ser um neto digno de você”. Te amo! Lágrimas, emoção. Apenas uma caixinha de surpresas…
(Lawrence Jourdan)