O ANIVERSÁRIO DO MENINO JESUS
Amanheceu. Acordei e logo percebi que tudo a minha volta estava diferente; o ar, os objetos, o dia, enfim, eu…
Aprontei-me e saí. Caminhei por alamedas onde a areia cantava com o meu pisar, onde os animais à beira do caminho me saudavam aos gritos, onde as árvores se desenhavam em sombras nas areias dos caminhos…
De lá avistei um campo de margaridas. Tão grande e tão lindo era esse campo, que percebia, de onde eu estava, seu encontro com o horizonte. Logo em sua direção corri. Por entre as margaridas dancei, sorri, gargalhei e continuei a correr.
Quando enfim, já cansado, deixei-me ao chão cair e, então, ouvi o silêncio a minha volta, onde estávamos tão sós – eu e as margaridas.
Percebi o sol e percebi também como ele secava, nas margaridas, as gotas de orvalho que entre suas pétalas teimavam em fazer-lhes cócegas para vê-las bailar…
Ali fiquei e adormeci. Vi quando de mim aproximou-se um menino envolto em juta e, a segurá-la, pedaços de cordas. Ele, chegando-se a mim, sentou-se a meu lado e segurou minha mão. Ali ficamos mudos, em silêncio, com as mãos a nos unir.
Após algum tempo levantou-se e puxando-me, convidou-me novamente a correr.
Eu, então, perguntei: que alegria é esta que hoje sinto?
Ele, sem nada dizer, apontou-me as borboletas, apontou-me os pássaros, as flores, apontou a mim.
Quando nos tornamos a sentar, sem silêncio ficamos novamente e, então, anoiteceu.
Preocupado com essa criança longe do lar, já pronto estava para perguntar-lhe se para sua casa não iria, quando ao nosso lado pousou uma enorme estrela, de intenso brilho e com uma enorme cauda de luz.
O menino levantou-se do meio das flores e foi sentar-se na cauda da estrela. Levando-me pela mão, convidou-me a nela sentar-me.
Viajamos a bordo dessa estrela, passeamos por entre a poeira de prata de tantas outras. Por fim, chegamos à beira de uma nuvem branco-neve e nela fomos nos sentar.
Alguns momentos depois, virou-se para mim o menino e perguntou-me: – “Queres conhecer a minha estória?” Dizendo que sim, pediu-me Ele que para baixo olhasse por entre os flocos de algodão onde sentados estávamos.
Em olhando, meus olhos encheram-se de lágrimas ao ver, em uma estrebaria, animaizinhos em círculos deitados tendo, ao meio, uma simples manjedoura.
Sobre a estrebaria, uma enorme estrela com um rastro de luz cintilava.
Olhei-o e então Ele me disse: – “ Hoje é meu aniversário. Como presente peço os corações de quem em mim pensar e peço para, mais do que a mim, não se esquecerem de meu Pai. Que à noite reúnam-se e festejem, e comemorem, e que as ceias fartas sejam servidas em todos os lares… Que haja abundância e que todos sirvam-se de amor, de respeito, de verdade, de humildade, de tolerância, de compreensão e de perdão! Que nada reste sobre as mesas! E que ao final, quando a seus leitos voltarem em busca de repouso, que esta comunhão tenha a todos alimentado, preenchido, para que se tornem, a partir de então, voluntários na semeadura da paz!”
“Quando acordei, ainda, entre tantas margaridas, olhei o céu e vi que pássaros voavam em minha direção trazendo, cada um, pétalas de flores em seus bicos. Quando perto de mim chegaram, em forma de guirlanda, com as pétalas, escreveram: “ BEM-VINDOS SEJAM À CEIA DO MENINO JESUS... “
Que Deus os abençoe. PAULO DE TARSO MARIA HELENA MOURÃO 13.12.00