O vendedor de sonhos
Idade avançada, aposentado, filhos criados, viúvo, simples vendedor de sonhos… José considerava-se um vencedor. Não por possuir bens materiais, nunca, mas, por sua consciência plena no bem. Aliás, o que possuía era uma casa modesta perto de uma praça e um pequeno carrinho adaptado com rodas e um fogão.Durante a semana, cuidava a sua maneira da limpeza da casa,das roupas, etc… Seu companheiro era Bob, seu cãozinho de estimação com quem trocava idéias, ideais e lembranças. Aos domingos, acordava cedo, preparava os ingredientes com atenção e carinho e se dirigia para a pracinha. No lugar de costume, estacionava e se preparava para vender os sonhos. Seu sorriso era sempre largo e contagiante. Fregueses já o esperavam e contavam com ele para adquirirem os doces para o lanche ou para consumir com as crianças no parque. Sentava-se no banco, ao lado dos brinquedos e observava a alegria genuína das crianças, que se pareciam com pequenas borboletas voando baixo e enfeitando a natureza. Ele considerava aquele espaço, um pouco do paraíso. Ali não havia o barulho das máquinas esburacando, derrubando, poluindo ou buzinas ensurdecedoras. Como um milagre, a fisionomia das pessoas era relaxada. Se elas soubessem como era reconfortante vê-las assim! O sino da igrejinha ao longe repicava e de repente, as recordações… A luta pela vida, o trabalho árduo, a educação dos filhos. Seriam outros tempos? A palavra tinha valor e significado. A integridade simplesmente não era nem podia ser discutida. Valores intensificados com honra, coragem e trabalho. Aliás, nunca perdera a esperança no ser humano. Religioso por convicção, sabia que o mundo nunca esteve ou está à deriva. Depende sim, de cada ser humano, com suas ações, sentimentos e pensamentos para o equilíbrio ou não. Sempre teve a fé como companheira e para ele agora, se constituía num verdadeiro prazer ouvir e participar das histórias, desabafos, fatos do cotidiano e conversas dos que o procuravam e desabafavam seus problemas do dia a dia. Para todos tinha uma palavra esclarecedora, otimista, reconfortante. Tinha a certeza da felicidade que é interna e a energia em volta, poderá ser dependendo de cada um, de paz e amor.Suas vibrações contagiavam.Cada sonho dado ou vendido ia, sem dúvida, com a mensagem do bem De repente, um criança chegou, olhou, sorriu! Seu olhar translúcido lembrou o pequenino Deus que há séculos mostrou insistentemente a verdadeira lição do amor. Infelizmente, não compreendida ainda, mas tão eficaz na sua essência. A criança se foi, seu olhar se perdeu nas brincadeiras.. Olh ares se confundem… Vagos, presunçosos, esperançosos, com dúvidas, perdidos, tristes, alegres… Olhares… Quem sabe, um dia, todos estes olhares não vão se confundir mais e estarão mais conscientes e só voltados para a paz e o amor. Amor a Deus, a si próprio, ao próximo. Quem sabe? Algum dia…
(Lawrence Jourdan)