Sinais  de   Primavera

Mais um dia estressante de trabalho. Vinicius usava a moto como transporte e entregava encomendas para a firma. Constantemente tinha saudades de sua cidade. As praças, o verde, as pessoas. Pareciam mais educadas e tranquilas. Se Deus quiser, pensava, logo estarei de volta. Mas precisava trabalhar e aprender a se sustentar. Pelo menos seu trabalho era útil, pois os clientes recebiam mais rapidamente e sem muito esforço o que já tinham adquirido. Tinha que se acostumar com as diferenças da grande cidade, mas, o que mais o surpreendia era a falta de educação das pessoas, o trânsito caótico, o desrespeito, as diferenças e desigualdades sociais. Dificilmente sobrava algum tempo pois ocupava tudo com seu trabalho na ânsia de ganhar mais um pouco. As pessoas eram também apressadas, reclamavam de tudo e dificilmente sorriam. A calma, as ruas vazias,  a paz, o sino da igreja, nada existia disso por aqui. Um dia, parou a moto e sentou-se no banco para conferir sua agenda. Escutou um cumprimento e respondeu fazendo menção de levantar-se. Alguém insistiu. Viu um Senhor idoso que sorria para ele. Os jovens sempre com a pressa. Respondeu que estava trabalhando. Já almoçou? Depois como  um sanduíche. Já respirou? Como? Claro! Você se parece com meu neto. Ele torceu o pé jogando futebol e foi a melhor coisa que podia ter acontecido pois  teve que olhar para si mesmo. Vocês não respiram o conveniente, o correto,  mas só o necessário. Deus nos dá a vida e nós nem a respeitamos  Você viu ontem a noite o céu? Claro que não! Uma lua linda e muitas estrelas. Olhe para o chão. Veja as pequeninas flores amarelas que você descuidadamente quase pisou. São os sinais da Primavera! Mas  o que conta são os do trânsito. Nós somos o trânsito. Desculpe, tenho que ir. Volte amanhã rapaz. De uma parada. Dez minutos não vão interferir tanto. Você precisa aprender a se cuidar emocionalmente. Sabia? Somos frutos do que pensamos, sentimos, comemos e bebemos. Deus o abençoe.    Vinicius se despediu e não deixou de ficar constrangido. O idoso tinha razão! Reclamava de tudo e todos mas era difícil partir dele um sorriso, um gesto mais gentil, um ato de solidariedade que tanto sentia falta. Passaria a se cuidar melhor e quem sabe, até arranjasse um tempo para bater papo com seu novo amigo? Sem dúvida, são os sinais da Primavera!

(Lawrence Jourdan)