O Embrulho
Beto ia saindo para o trabalho como fazia todas as manhãs quando, ao abrir a porta do pequeno apto onde morava há alguns meses, verificou um embrulho em frente a porta. Que seria? Não comprara nada pois estava em regime de economia. Desde que chegara do sul, lutava bravamente para ter um dia seu próprio haras e criar cavalos de raça, sua grande paixão. No início, tudo era diferente e estranho para ele, pois estava acostumado a um clima bem frio e outra cultura. Trabalhava com interesse e perseverança, pois tinha em mente que daqui a alguns meses tudo seria diferente. Lembrava com saudades dos campos verdes e de seus animais. Aqui na cidade tudo era diferente. As pessoas pareciam ter uma pressa e uma agitação que ele não conseguia nem entender, quanto mais, imitar. Que desperdício! Não observavam a natureza, as lindas paisagens que mudavam em cada amanhecer e anoitecer. Realmente, nunca poderia compreender aquele tipo de vida. Mas, que seria aquilo?Ao tentar apanhar o embrulho, a porta do vizinho abriu e uma senhora de certa idade, gentilmente o cumprimentou. Bom dia! Eu o vejo quase sempre, pois meu neto sai e chega mais ou menos a mesma hora. Está gostando daqui? Como se chama? Meu nome é Roberto Sra, e estou ainda tentando me acostumar com a cidade. Estava saindo quando me deparei com esta embalagem. Não é minha, pois não encomendei nada. Meu filho, me perdoe, mas, não mexa neste embrulho! Sabe, pode ser muito perigoso! Eu sempre aviso a meu neto que tenha o máximo cuidado, pois o mundo de hoje está um perigo. As pessoas não devem se distrair, pois podem se machucar. Tem muita maldade por aí. E se for uma bomba? E se for ácido? Roberto, delicadamente se despediu e pegou o elevador. Como era bom respirar o ar e sentir na pele o sol da manhã! Por que as pessoas se contaminam de graça? Será que não conseguem perceber a influência maléfica dos pensamentos, sentimentos, ações que podem causar malefícios físicos e até emocionais? Ao chegar á noite, não encontrou mais o tal embrulho, e sim um bilhete de desculpas. O presente surpresa era para o apartamento de frente.
(Lawrence Jourdan)